11 janeiro 2006

Enquanto espero...

Se me perguntarem porque espero ou o que espero, não sei dizer.
O que sinto é que ainda não é isto. O que sinto é que caminhei tanto para alcançar o que pensava que era o que desejava, e agora, que olho o mundo do cimo da montanha, vejo que afinal... não quero tanto assim. Afinal, sou feliz com muito menos. Preciso apenas de sentir, preciso apenas de acreditar, de sorrir. Preciso da liberdade, aquela que me faz sentir que não tenho nada a perder. Foi sempre assim que vivi, numa corda bamba, a pagar para ver se caía ou ganhava asas para voar. Quase sempre caí. E levantei-me. É por acreditar... que talvez amanhã, quem sabe, consiga voar.Viver a arrumar histórias e a começar outras...ir depressa demais e outras vezes não ir sequer. Chorar porque rio e a rir porque choro. Com este coração que não me cabe no peito. E reconstruo-me assim por dentro, devagar. É a falta. A falta do toque que sabemos ser por amor. A falta de alguem que nos trate bem, que nos mime, que esteja lá, simplesmente. Mais que namorado, marido ou amante. Companheiro. O porto para o qual sabemos sempre poder regressar. O ter alguem à nossa espera. O esperar por alguem. A quem dar o ultimo telefonema do dia. A quem desejar boa noite. A cabeça de descanso num peito que se mexe devagar. O silêncio. A mão e o corpo entrelaçados noutra mão e noutro corpo. O beijo. O riso. O chamego. O aconchego. O partilhar. Alguem para escutar, alguem que nos escute. O dividir. O acordar cedo porque está tanto por viver... a tranquilidade das manhãs de domingo...as tardes de aconchego no sofá, entre mantas e lareira. As noites de travessura.Cumplicidades... e o amor sempre escondidinho, ali perto, à espera do momento para gritar. E quantas vezes ninguem o ouve. Por vezes a falta pesa. A falta de coisas tão banais...como o amor. O amor que quando não morre mata. O amor que muitas vezes, por desistir de nós, nos obriga a desistir dos nossos sonhos... sempre o amor. Que por ser tão odiado é tão procurado. E nessa procura, ele a bater à porta, de mansinho, e nós, distraidos. Quantos sentem falta? E de quê? Ninguem fala das faltas que sentem, das saudades que têm. A verdade é que não se fala do que se sente... medo? Talvez. As coisa bonitas calam-se para se gritar alto as outras. As feias. É sempre mais fácil magoar que dizer gosto-te. Eu sinto falta de muitas coisas...até de receber uma carta, verdadeira, em envelope fechado com o carimbo dos correios e tudo. Sem ser em correio azul, que parece ser urgente demais...mesmo que fosse uma carta que começasse por: "minha querida ...."Saudades das coisas mais pequenas.... saudade. E a saudade só faz com que espere. Espero o dia em que a possa matar, para sentir aquele sorriso que nasce inocente, por uma ternura que vem do peito, cá de dentro, devagarinho... só para sentir que todo o tempo de espera não foi em vão... A verdade é que sempre segui pelo melhor caminho, o unico que naquele instante poderia seguir. Parece-me agora que sempre o mais dificil. Hoje que penso nas perdas, nas faltas, na saudade, nas esperas constantes, vejo que perdi muitas almas, mas nunca a minha, perdi muitos corpos mas nunca o meu. Perdi muitos homens mas nunca o amor. Aquele que continua cá no fundo, onde faz eco. O que espera. Apenas.

Um comentário:

Josy Lima disse...

Uau! Que texto lindo!
Esse eu não conhecia, amei!
Me identifiquei tb com ele, estou aqui a esperar...somente isso!