06 abril 2006

Piano Bar

(Engenheiros Do Hawaii)

O que você me pede eu não posso fazer. Assim você me perde, eu perco você. Como um barco perde o rumo. Como uma árvore no outono perde a cor.

O que você não pode eu não vou te pedir. O que você não quer eu não quero insistir. Diga a verdade, doa a quem doer. Doe sangue e me dê seu telefone.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar. Às vezes fica longe, difícil de encontrar. Mas, quando o neon é bom, toda noite é noite de luar.

No táxi que me trouxe até aqui Júlio Iglesias me dava razão. No clip, Paul Simon tava de preto mas, na verdade, não era não. Na verdade nada é uma palavra esperando tradução.

Toda vez que falta luz. Toda vez que algo nos falta alguém que parte e não volta. O invisível nos salta aos olhos. Um salto no escuro da piscina.

O fogo ilumina muito por muito pouco tempo (por muito pouco tempo). Em muito pouco tempo o fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz. Toda vez que falta luz. O invisível nos salta aos olhos.

Ontem à noite, eu conheci uma guria. Já era tarde, era quase dia. Era o princípio num precipício. Era o meu corpo que caía.

Ontem à noite, a noite tava fria. Tudo queimava, nada aquecia. Ela apareceu, parecia tão sozinha. Parecia que era minha aquela solidão.

Ontem à noite eu conheci uma guria que eu já conhecia. De outros carnavais, com outras fantasias. Ela apareceu, parecia tão sozinha. Parecia que era minha aquela solidão.

No início era um precipício (um corpo que caía). Depois virou um vício (foi tão difícil acordar no outro dia). Ela apareceu, parecia tão sozinha. Parecia que era minha aquela solidão.