29 janeiro 2007

Desabafando...

Agora vamos lá, dedos no teclado e lágrimas no rosto. Hora de escrever por mim mesma, nada de autores conhecidos, chegou a hora de desabafar. Já tem bastante tempo que preciso por pra fora as coisas que venho reprimindo. Como diz num dos textos abaixos, acho que tenho a sensibilidade a flor da pele e hoje pude comprovar isso. Bastou uma desconfiança pra vir a tona um vale de lágrimas, nem eu soube explicar o porquê de tal sentimento, mas já vinha machucada a algum tempo e devo ter chegado no limite. Porque é tão difícil as pessoas acreditarem nas outras? Vivemos num mundo onde só há mentiras? Nada mais é verdadeiro? Ninguém é sincero? Não posso responder pelos outros, mas um grande defeito e ao mesmo tempo, uma grande qualidade minha é ainda acreditar nas pessoas, mesmo me decepcionando, mesmo depois de vários deslizes, prefiro acreditar que estão sendo sinceros comigos, pois é assim q tento ser e nada me deixa mais fora de mim do que falar a verdade e a pessoa não acreditar. Se não acredita, se não confia, melhor manter distancia, não faz bem viver com desconfiança, de que adianta por exemplo ter um amigo e não poder confiar no que ele te diz? De que adianta eu nutrir um sentimento por uma pessoa, se acho q tudo ou grande parte do q ela me diz é mentira? Se ninguém acreditar no outro, onde vamos parar? Por não acreditar se perde muitas coisas, se perde amizade, amor, oportunidades únicas. Mas e se for realmente tudo mentira? Quem perde com isso? Garanto que não serei eu, estarei dando o melhor de mim, a minha verdade, se não estou recebendo o mesmo...lamento, o mentiroso é que vai perder a oportunidade de conviver com a sua consciencia tranquila, não há nada melhor que isso! Não é por tentar ser sincera que sou perfeitinha, longe de mim! Sou cheia de defeitos, de manias, de medos, de neuras. Já menti também, mas garanto que não é nada reconfortante assumir isso. Já fiz coisas por impulsos, já briguei com quem amo por bobagem, já pedi desculpas, já fui desculpada, já fui abandonada, já fui infantil, já fui xingada, já fui muitas coisas, algumas com razão, outras não, mas tento sempre melhorar, tento sempre ser sincera, em 90% das vezes tento agir com o coração e provavelmente esteja aí o grande erro. Talvez por isso eu cobre tanto dos outros um retorno, só que ninguém tem q agir ou pensar da mesma forma que eu. Tenho que entender os outros, mas tenho que ser entendida também. Tenho que amar, mas tenho que ser amada também. Tenho que perdoar, mas tenho que ser perdoada também. Estou sendo "esquecida", mas NÃO consigo esquecer!!! Talvez por isso tudo, eu esteja "nutrindo" uma gastrite em mim. Parecer uma fortaleza nem sempre é bom! Quero colo!!! Quero abraço!!! Quero carinho!!! Quero alguém!!! Quero você!!!

Seqüência de textos da Martha Medeiros

Todo o resto... "Existe o certo, o errado e todo o resto". Esta é uma frase dita pelo ator Daniel de Oliveira representando Cazuza, em conversa com o pai, numa cena que, a meu ver, resume o espírito do fime . Aliás, resume a vida. Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes. Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, repetir o ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo? Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? É tudo aquilo que agente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzias de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós. Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás de nosso autocontrole há um desespero infantil. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores, e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto. O amor é certo, o ódio errado, e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidades de afeto e urgência sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público. Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos que não obedecemos, ou que obedecemos bem demais - a troco de que fomos tão bonzinhos? Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece. O certo é ser magro, bonito, rico e educado, o errado é ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com esse reducionismo: é nossa fome por idéias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões. Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louca, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós, mas que ninguém percebe, só porque crescemos. A maturidade é um álibe frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê. (Martha Medeiros)