02 abril 2007

O Que Será

Oswaldo Montenegro

Composição: Indisponível

O que será que me dá

Que me bole por dentro, será que me dá

Que brota a flor da pele, será que me dá

E que me sobe às faces e me faz corar

E que me salta aos olhos a me atraiçoar

E que me aperta o peito e me faz confessar

O que não tem mais jeito de dissimular

E que nem é direito ninguém recusar

E que me faz mendigo, me faz suplicar

O que não tem medida, nem nunca terá

O que não tem remédio, nem nunca terá

O que não tem receita

O que será que será

Que dá dentro da gente e que não devia

Que desacata a gente, que é revelia

Que é feito uma aguardente que não sacia

Que é feito estar doente de uma folia

Que nem dez mandamentos vão conciliar

Nem todos os ungüentos, vão aliviar

Nem todos os quebranto, toda alquimia

Quem nem todos os santos, será que será

O que não tem descanso, nem nunca terá

O que não tem cansaço, nem nunca terá

O que não tem limite

O que será que me dá

Que me queima por dentro, será que me dá

Que me perturba o sono, será que me dá

Que todos os tremores me vêm agitar

Que todos os ardores me vêm atiçar

Que todos os suores me vêm encharcar

Que todos os meus nervos estão a rogar

Que todos os meus órgãos estão a clamar

E uma aflição medonha, me faz implorar

O que não tem vergonha, nem nunca terá

O que não tem governo, nem nunca terá

O que não tem juízo

Por amor me calei
E tinha tanto a dizer!
Eu tinha a dizer da vontade
E de uma enorme saudade
Que teimavam em não morrer.
Eu tinha a dizer dos sonhos
Que de espanto
Ainda teimam em viver.
Eu tinha a dizer do carinho
Que ficou sem ninho
E teima em sobreviver.
Eu tinha a dizer das carícias
Que nem sempre de malícias
Se vestiam pra você.
Eu tinha a dizer da cumplicidade
Que agora com o vazio
Nada mais tem a dizer.
Eu tinha a dizer do medo
Que insistia em bater
Sabedor que ia embora
Por medo de me querer.
Eu tinha a falar do Amor
Que nunca rima com dor.
Que pena, nem tive tempo!
Me calei, por Amor.